O que Está Errado com o Calvinismo?

Jerry L. Walls

Um dos mais longos debates na história da teologia diz respeito à relação entre a predestinação e a liberdade humana. De um lado desta disputa o nome mais famoso é de João Calvino, e do outro o nome mais conhecido é provavelmente John Wesley. Embora Wesley estivesse preocupado com a evangelização e a renovação da igreja, a própria natureza de seu trabalho exigia que ele tomasse posições sobre certos assuntos polêmicos. Talvez o mais significativo desses envolvesse suas disputas com o Calvinismo; de fato, seu trabalho sobre estas questões representa uma de suas mais importantes contribuições para a teologia histórica.

Apresso-me a acrescentar que esta disputa está longe de ser meramente uma relíquia da história que os cristãos contemporâneos podem ignorar. Alguns anos atrás eu fui coautor de um livro sobre o Calvinismo com um colega e outro amigo acadêmico perguntou se não estávamos simplesmente batendo em um cavalo morto. A resposta é, decididamente, não! Quem está prestando atenção está bem ciente que o Calvinismo não só está vivo, está também florescendo. E o que pode vir a surpreender alguns é que ele está florescendo entre os crentes jovens de faculdades e até mesmo entre aqueles com idade para o ensino médio. Este ressurgimento do Calvinismo foi documentado em uma recente reportagem de capa na revista CHRISTIANITY TODAY, intitulada “Jovens, inquietos e reformados” (cf. http://www.christianitytoday.com/ct/2006/september/42.32.html).

Enquanto os debates sobre o Calvinismo são normalmente vigorosos e altamente enérgicos, muitas vezes os disputantes deixam escapar as verdadeiras questões que dividem os dois lados. Isto não é surpreendente, pois compreender as questões exige apreender algumas distinções sutis, particularmente no que diz respeito à forma como a liberdade humana é definida pelos lados opostos. Às vezes se pensa que as divergentes opiniões sobre a liberdade representam o mais profundo fosso entre calvinistas e wesleyanos. Este certamente não é o caso, mas se faz necessário ser claro sobre as diferentes explicações sobre a liberdade para verdadeiramente ver as questões mais profundas.

Antes de afirmar as diferenças, é importante ser claro sobre o importante fundamento que Wesley compartilhava com seus oponentes calvinistas. Em primeiro lugar, eles concordavam com a doutrina da depravação total, a doutrina que o pecado afetou todos os aspectos da vontade humana e nos incapacitou de obedecer a Deus e cumprir sua vontade. Além disso, Wesley e seus oponentes concordavam que nem todos finalmente serão salvos. Assim, a primeira grande questão entre os dois lados tinha a ver com a explicação de por que nem todos são salvos. A resposta calvinista é que Deus incondicionalmente escolhe salvar alguns da massa de pecadores caídos, e ignorar o restante, que são consequentemente condenados. Os eleitos que são escolhidos para salvação recebem o dom da graça irresistível; ou seja, Deus age em seus corações e vontades de tal modo que eles não podem senão responder favoravelmente ao convite do evangelho.

E, todavia, os calvinistas insistem, a resposta à graça, no entanto, é livre. Considere este trecho da “Confissão de Westminster” descrevendo a obra de Deus nas vidas dos eleitos. Essa obra tem o efeito de “iluminar os seus entendimentos espiritualmente a fim de compreenderem as coisas de Deus para a salvação, tirando-lhes os seus corações de pedra e dando-lhes corações de carne, renovando as suas vontades e determinando-as pela sua onipotência para aquilo que é bom e atraindo-os eficazmente a Jesus Cristo, mas de maneira que eles vêm mui livremente, sendo para isso dispostos pela sua graça” (X.1). Note particularmente a última linha, que diz que “eles vêm mui livremente, sendo para isso dispostos pela sua graça”. Esta linha é muito reveladora para nos ajudar a compreender a visão calvinista da liberdade.

A essência da visão – às vezes chamada de “determinismo suave” e às vezes de “compatibilismo” – é que a liberdade é compatível com o determinismo. Ou seja, uma escolha pode ser livre mesmo que ela seja completamente determinada por causas anteriores. Em particular, os calvinistas afirmam que Deus determina tudo o que acontece, inclusive nossas escolhas.

Às vezes se pensa que o Calvinismo ensina que Deus nos força a fazer coisas contra a nossa vontade ou nos compele contra os nossos desejos. Contudo, este é um grave equívoco sobre o Calvinismo. Olhe novamente para a passagem acima. Ela diz que Deus ilumina as mentes dos eleitos, que renova as suas vontades, muda seus corações, e assim por diante. Por conseguinte, Deus não faz os eleitos agirem contra as suas vontades; antes, ele muda as suas vontades de forma que quando eles vêm a Cristo, eles fazem de bom grado. Na verdade, eles não podiam fazer outra coisa – isso é que torna a graça irresistível – mas dado a forma como Deus os mudou internamente, eles não querem fazer o contrário. Eles fazem exatamente o que Deus determinou que fizessem, e eles fazem exatamente o que desejam fazer. Eles são ambos determinados e livres, no sentido que eles fazem o que querem fazer. Deus faz com que eles tenham as crenças e desejos que têm, e eles agem em conformidade com esses desejos.

Agora vamos nos voltar para Wesley para ver como ele explicava por que alguns não são salvos. Aqui está como ele afirmava a questão entre ele mesmo e seus oponentes calvinistas. “Você pode me levar, por um lado, a menos que eu me contradiga ou retraia meus princípios, a confessar uma medida de livre arbítrio em cada homem... e, por outro, posso levar você, e todos os outros defensores da eleição incondicional, a menos que você se contradiga ou retraia seus princípios, a confessar a reprovação incondicional”. Note: Wesley diz que seus princípios o levam a “confessar uma medida de livre arbítrio em cada homem”. E esta é a sua resposta à pergunta de por que alguns não são salvos.

Na opinião de Wesley, Deus restaura aos pecadores caídos uma medida de liberdade que lhes permitem aceitar o evangelho e ser salvos, ou rejeitá-lo. Esta é uma parte essencial de sua famosa doutrina da “graça preveniente”, uma doutrina que é a contraparte em seu sistema teológico da doutrina da eleição incondicional no Calvinismo. A graça preveniente capacita todas as pessoas a responder ao evangelho e ser salvas, então ninguém é incondicionalmente eleito como no Calvinismo. Pelo contrário, a eleição é condicional a uma resposta positiva à graça preveniente de Deus. Aqueles que aceitam essa graça e perseveram nela serão salvos, enquanto que aqueles que persistem em rejeitá-la serão perdidos. Assim, a explicação de Wesley de por que alguns se perdem é profundamente diferente da resposta calvinista. Eles não se perdem porque não foram eleitos; antes, eles não são eleitos porque escolhem livremente permanecer perdidos.

A visão de Wesley da liberdade é muito diferente da visão calvinista. Para ele é uma contradição em termos dizer que uma escolha pode ser ambas determinada e livre. Uma escolha verdadeiramente livre é aquela em que a pessoa envolvida poderia ter escolhido de outra forma. Novamente, todas as pessoas são capacitadas ou habilitadas a aceitarem o evangelho e serem salvas, mas ninguém é determinada a agir assim.

É importante ressaltar o lugar que essa visão da liberdade tem na estrutura do pensamento de Wesley. Observe que é algo que ele deve afirmar, sob pena de inconsistência, se ele for permanecer fiel aos seus princípios. Assim, sua visão da liberdade é uma implicação de princípios mais profundos que ele possui. E os calvinistas, ele insiste, devem afirmar a reprovação incondicional, se forem consistentes.

Agora, é isso que para Wesley é simplesmente inconcebível e totalmente em desacordo com a descrição bíblica de Deus. E aqui começamos a abordar as mais profundas diferenças entre Wesley e o Calvinismo. Para trazer estas diferenças em foco, precisamos refletir sobre uma implicação fundamental da visão calvinista da liberdade, a saber: se a liberdade e o determinismo forem compatíveis, então Deus poderia salvar todas as pessoas mantendo suas liberdades intactas. É por isso que Wesley acha abominável o conceito calvinista da reprovação. De acordo com ele, Deus escolhe destinar à condenação pessoas que ele poderia facilmente salvar, sem anular as suas liberdades.

Se a questão for considerada apenas do ponto de vista do poder de Deus, Wesley concordaria que Deus poderia ter criado um mundo no qual ele determinasse todas as coisas. Mas se ele tivesse escolhido determinar todas as coisas, o mundo seria um lugar bem diferente do que é. Se Deus determinasse todas as coisas, o mundo não seria cheio de pecado e miséria. E, certamente, Deus não determinaria que ninguém se perdesse se ele pudesse salvá-los sem anular as suas liberdades.

Assim, agora fica claro que a diferença fundamental entre a teologia calvinista e a wesleyana é, em última análise, uma visão profundamente diferente do caráter de Deus. Não é uma questão do que Deus podia fazer (poder), mas do que ele queria fazer (caráter). Se ele pudesse salvar a todos sem destruir suas liberdades, ele certamente faria isso. Se ele pode mas não quer, ele não pode ser perfeitamente bom ou amoroso.

É por isso que a visão de Wesley da liberdade humana é uma implicação de princípios mais fundamentais que têm a ver com o amor e a bondade de Deus. Se há um grande mal no mundo, e alguns, talvez muitos, finalmente se perdem, isso deve ser explicado em termos de liberdade humana. Novamente, se Deus determinasse escolhas da maneira que ensinam os calvinistas, ele não determinaria o mal, e, em última análise, a condenação.

Uma implicação prática desta profunda diferença é a forma como entendemos e pregamos o evangelho. Particularmente, nós acreditamos e pregamos que Deus genuinamente ama todas as pessoas? Enquanto os wesleyanos podem sinceramente afirmar isso, é difícil para os calvinistas fazer a mesma coisa sem serem hipócritas. Pois não há sentido inteligível em que pode ser afirmado que Deus ama as pessoas que ele escolheu não salvar, pessoas que ele poderia salvar sem sobrepor suas liberdades (como os calvinistas a definem) mas que escolheu não salvar. É porque o próprio núcleo do evangelho está envolvido nesta controvérsia clássica que Wesley foi tão intensamente sensível a ela, e também por que os cristãos contemporâneos devem continuar dedicando-se a esta questão com sábia preocupação.

Fazer isso requer um esforço sério para adquirir uma clara compreensão, não apenas dos conceitos filosóficos e teológicos que tenho abordado neste ensaio, mas também uma profunda compreensão da narrativa bíblica. Textos-prova não irão estabelecer a questão para um dos lados. Somente um confronto honesto com a Escritura, junto com uma rigorosa clareza das afirmações das verdades teológicas desenvolvidas por cada lado é que permitirá uma avaliação precisa das duas tradições, mostrará como eles divergem e deixará claro o que está em jogo quando o fazem.

Jerry Walls, John Wesley Fellow e editor do Manual Oxford de Escatologia (Oxford University Press, 2007).

Tradução: Berilso de França
Fonte:http://www.arminianismo.com/

Não Estou Salvo!

por

Charles Haddon Spurgeon

“Passou a sega, findou o verão, e nós não estamos salvos”
Jeremias 8.20
NÃO ESTOU SALVO! Caro leitor, esta é a sua triste condição? Mesmo sendo avisado do julgamento por vir e exortado a buscar a salvação,ainda assim, até agora você não está salvo? Você sabe qual é o caminho da salvação; tem lido sobre isso na Bíblia; ouve pregações a respeito e amigos lhe explicam o assunto.

Porém, apesar de tudo, você despreza e, portanto, não está salvo. Não haverá desculpas para você, quando o Senhor julgar os vivos e os mortos. O Espírito Santo tem abençoado, com maior ou menor intensidade, a Palavra que lhe é pregada; tem trazido, da presença divina, momentos de refrigério. Mesmo assim, você se encontra sem Cristo. Assim como as estações, essas oportunidades de esperança lhe chegaram e se foram - seu verão e sua colheita já passaram - e você ainda não está salvo.

Os anos se sucedem em direção à eternidade; logo chegará o último ano de sua vida. Sua juventude logo passará; sua varonilidade estará se escoando, e você ainda não está salvo. Pergunto-lhe: Você será salvo ainda? Há qualquer possibilidade disso? Mesmo as ocasiões mais propícias não lhe levaram a salvação. Seria o caso de outras oportunidades alterarem a sua condição? Vários meios já falharam com você; até mesmo o melhor dos métodos, usado com perseverança e com a maior afeição. O que mais poderá ser feito por você?
A aflição e a prosperidade não mais lhe impressionam; lágrimas, orações e sermões se perderam em seu coração vazio. Não se esgotaram as probabilidades de você um dia ser salvo? Não é mais que provável que você permanecerá como está, até que a morte feche para sempre as portas da salvação?
Você poderá rejeitar esta suposição; entretanto, ela é racional, pois quem não se lava em águas abundantes, quando as encontra, muito provavelmente permanecerá imundo até o fim. Se o tempo apropriado não chegou, por que haveria de chegar? É natural temer que ele nunca chegará e que, à semelhança de Félix, você nunca encontre ocasião apropriada, até que esteja no inferno. Oh! Considere o que é o inferno e a terrível possibilidade de ser em breve lançado nele!
Leitor, caso você morra sem ser salvo, não haverá palavras para descrever a sua perdição. Você deveria lamentar-se profundamente pela triste estado, falar a respeito dele com gemidos e ranger de dentes. Você
será punido com a destruição eterna, banido da glória do Senhor e da glória do seu poder. Esta voz amiga deseja alertá-lo e conduzi-lo à uma vida de seriedade. Oh! Seja sábio a tempo e, antes que passe a oportunidade, creia em Jesus, que é capaz de salvá-lo completamente.
Utilize o tempo presente para refletir. Se, em humilde fé em Cristo, houver arrependimento em sua vida, isto será o melhor a lhe acontecer.
Não permita que este ano passe e você continue sem perdão; nem que o repicar dos sinos do ano novo o encontrem sem o gozo verdadeiro. Creia em Jesus e viva - agora, agora, agora.
“Livra-te, salva a tua vida; não olhes para trás, nem pares em toda a campina; foge para o monte, para que não pereças” Gn. 19:17.

MenteSanta
"A ORTODOXIA, OU A OPINIÃO CORRETA, É UMA PARTE MUITO SECUNDÁRIA DA NOSSA CRENÇA. APESAR DE SÓ SENTIRMOS TEMOR DE DEUS QUANDO FAZEMOS UMA IDÉIA CORRETA A SEU RESPEITO, É POSSÍVEL TERMOS UM CONCEITO ACERTADO SEM QUE HAJA TEMOR. PODE HAVER UM CONCEITO CORRETO DE DEUS, SEM QUE HAJA AMOR OU SENTIMENTO DE TEMOR PARA COM ELE. SATANÁS É UMA PROVA DISSO"

Como ela o importunasse e insistisse todos os dias com suas lamúrias,

ele caiu num desespero mortal. Jz. 16.16.

Introdução

Este texto me traz medo, sim você leu corretamente "MEDO", pois nele existe uma verdade amedrontadora, que todos deveríamos perceber, neste pequeno trecho do episódio da vida de Sansão, você perceberá que Sansão perde a pessoa mais preciosa de sua vida, por causa de um jogo de palavras, Sansão é derrotado, mas não é derrotado por causa de sua lascívia desenfreada, Sansão foi derrotado porque não agüentou a pressão das palavras de Dalila.

Este jogo de palavras é antigo começou lá no jardim do Éden "É certo que não morrereis", sim neste jogo de palavras, as palavras nos soam como algo inofensivo. Dalila foi tão astuta como a serpente, usou palavras para roubar aquilo que era mais precioso na vida de Sansão, ela usou palavras para pressioná-lo, usou palavras para lhe tirar a razão, ela usou palavras para destrui-lo.

Às vezes este jogo de palavras, é levado até as últimas conseqüências, sim o que importa neste jogo é seduzir o adversário, destrui-lo e roubá-lo, roubar sua paz, sua integridade, sua família, sua igreja local, seu ministério, roubar até mesmo de você a presença de Deus.

Sim isto tudo aconteceu na vida de Sansão, de tudo que Sansão perdeu, ele perdeu aquilo que lhe era mais precioso, sua força, ele perdeu a presença de Deus.

"Dalila fez Sansão adormecer... chamou um homem, que cortou as sete tranças... foi enfraquecendo e de repente sua força o abandonou... "Sairei desta como das outras vezes e me livrarei". Mas ele não sabia que o SENHOR o havia abandonado". Jz. 16.19-20

Sim, Sansão perdeu! Perdeu toda sua força, Sansão perdeu a presença de Deus. Tudo começa neste jogo de palavras, Dalila insistiu tanto para que Sansão lhe revele-se o segredo de sua força, ela agiu de tal forma, que levou Sansão a uma agonia tão grande que ele não pode suportar.

"Sansão ficou tão cansado com a insistência dela, que já não agüentava mais". Jz. 16.16 NTLH

"ela o esgotava dia após dia, ficando ele a ponto de morrer". Jz. 16.16 NVI

Sansão ficou tão angustiado, a pressão dela foi tão grande, que ele teve um "desesperou mortal", sim é sempre assim, tudo começa com este jogo de palavras, às vezes é aquela conversa no MSN, pode também ser, aquele simples elogio no Orkut, pode ser aquele convite para almoçar, pode ser aquele presente, sim às vezes sua ruína pode estar em coisas simples como estas, às vezes a insistência pode ser tão grande, que te leva a desistir de seu próprio casamento, às vezes a insistência pode ser tão grande, que a sua secretaria fica mais atraente que sua esposa, que o seu vizinho fica mais atraente que seu marido, as vezes a insistência pode ser tão grande, que para você, não fará diferença se este seu ato é pedofilia, a insistência pode ser tão grande que desviar o dinheiro se tornou algo tão fácil, a insistência pode ser tão grande que você esquece que a pessoa mais preciosa de sua vida já ficou para trás faz um bom tempo.

Tudo começa neste elo que chamamos "conversa", sim tudo é ligado, por meio da conversa, a pressão pode ser tão grande, que por meio de uma conversa revelamos aquilo que nunca poderia ser dito.

"... e acabou revelando-lhe todo o segredo". Jz. 16.17

Sansão acabou dizendo, aquilo que em nenhum momento, poderia ser dito. A sua queda foi articulada, por meio daquilo que ele mesmo revelou. Às vezes aquilo que você fala pode ser a porta que o diabo deseja para poder te destruir. Às vezes a forma como falamos com nosso cônjuge, a forma como você fala com seu filho, com seu patrão, com seu vizinho, com sua vizinha, como sua amiga com seu amigo, pode ser a porta de entrada para o diabo destruir tudo o que você pode ter levado anos para construir. Às vezes falou mal quando deveria ter ficado calmo, você revelou como você deseja seu amigo de serviço, às vezes você expôs para seu pseudo-amigo de serviço, sua insatisfação com o novo chefe. Diante da pressão, você pode tocar em lugares que nunca deveria ser tocado, não neste momento. Às vezes diante da pressão, o aconselhamento pode terminar na cama, como já aconteceu!

Diante da insistência tudo pode acontecer. Tudo pode acontecer se você esquecer quem você é, se por um momento você baixar o seu escudo o golpe pode ser fatal, você precisa em todo instante, ter em mente quem você é, e o motivo de sua existência.

"nele, digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade, a fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo. Ef. 1.11-12.

A tentação virá, a pressão será grande, mas creia você pode vencer. Lembre-se Jesus diante de grande pressão venceu. Você poderá ser tentado em algumas áreas tais como:

  1. Você pode ser tentado a desistir, quando for questionado se verdadeiramente você é
    filho de Deus. (Veja Lc. 4.3)
  2. Você pode ser tentado com o fascínio deste mundo, desejando sua glória, sua autoridade, correndo o risco de prostra-se diante de outros deuses. (Veja Lc. 4.5-7)
  3. Você poderá ser tentado, a achar que pode cometer qualquer tipo de pecado. (Veja Lc. 4.9-11)

Vimos resumidamente à tentação que Jesus sofreu. A qualquer momento podemos ser tentados também, mas lembre-se que só existe um meio de você vencer a pressão, a insistência, as tentações e os pecados gerados pelo seu coração corrupto.

As Escrituras Sagradas afirmam que o ser humano não vive só de pão. Lc. 4.4

As Escrituras Sagradas afirmam: "Adore o Senhor, seu Deus, e sirva somente a ele." Lc. 4.8

As Escrituras Sagradas afirmam: "Não ponha à prova o Senhor, seu Deus." Lc. 4.12

Você vencerá por meio das Escrituras, você atacará por meio das escrituras, não tem outro modo, não há outro meio. Você só cederá à tentação, você só perderá o ânimo, se lhe faltar o conhecimento de Deus, às vezes caímos, porque em vários momentos o que nos falta, é este conhecimento de Deus (Veja Os. 6.1; 6), gerado pelo conhecimento das escrituras, você e eu só venceremos, as pressões e as insistências, porque "As escrituras sagradas afirmam". De outro modo ficaremos cegos, poderemos ser presos, seremos ridicularizados.

Os filisteus o pegaram e furaram os seus olhos... E o puseram para trabalhar na prisão, virando um moinho. Os governadores filisteus se reuniram para fazer uma festa... E o povo, quando viu Sansão, cantou louvores ao deus Dagom... E, no meio daquela alegria, disseram: - Chamem Sansão, para ele nos divertir. Trouxeram Sansão para fora da cadeia e se divertiram à custa dele. Jz. 16.21-25

"O pecado (sempre) custará mais do que você pode pagar" – Pastor Natalino. (eu acrescentaria a palavra sempre nesta frase)

Mas lembre-se se caído você estiver, e em arrependimento você se voltar para o Senhor teu Deus, ele te ouvirá, pois as escrituras sagradas afirmam.

E Sansão orou ao SENHOR, dizendo: - Ó Senhor, meu Deus, peço que lembres de mim. Por favor, dá-me força só mais esta vez. Deixa que eu, de uma só vez, me vingue dos filisteus, por terem furado os meus olhos. Jz. 16.28

Que mais direi? Não tenho tempo para falar de Gideão, Baraque, Sansão, Jefté, Davi, Samuel e os profetas, os quais pela fé conquistaram reinos, praticaram a justiça, alcançaram o cumprimento de promessas, fecharam a boca de leões, apagaram o poder do fogo e escaparam do fio da espada; da fraqueza tiraram força, tornaram-se poderosos na batalha e puseram em fuga exércitos estrangeiros. Hb. 11.32.34

Sansão pela fé tirou força de sua fraqueza. "Na sua morte, Sansão matou mais homens do que em toda a sua vida" (Veja Jz. 16.30). Por meio da morte você vencerá, as escrituras sagradas afirmam.

"Porque morrendo, ele morreu para o pecado uma vez por todas; mas vivendo, vive para Deus. Da mesma forma, considerem-se mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus. Portanto, não permitam que o pecado continue dominando os seus corpos mortais, fazendo que vocês obedeçam aos seus desejos. Não ofereçam os membros dos seus corpos ao pecado, como instrumentos de injustiça; antes ofereçam-se a Deus como quem voltou da morte para a vida; e ofereçam os membros dos seus corpos a ele, como instrumentos de justiça. Pois o pecado não os dominará, porque vocês não estão debaixo da lei, mas debaixo da graça". Rm. 6.10-14

Quando a pressão vier, quando a insistência chegar, quando o pecado a porta bater ou o diabo se insinuar, diga:

As escrituras sagradas afirmam...

Andrezinho rupereta.










"Porque pela graça tendes sido salvos".

Efésios 2.8-10.

Essa é, por assim dizer, a inferência das afirmações anteriores. Pois ele tratara da eleição e da vocação gratuita, visando a chegar à conclusão de que haviam obtido a salvação unicamente através da fé.

Primeiramente, ele assevera que a salvação dos efésios era inteiramente a obra - e obra gratuita - de Deus; eles, porém, alcançaram essa graça por meio da fé.

De um lado, devemos olhar para Deus; de outro, para o homem. Deus declara que não nos deve nada; de modo que a salvação não é um galardão ou recompensa, mas simplesmente graça. Ora, pode-se perguntar: como o homem recebe a salvação que lhe é oferecida pelas mãos divinas? Eis minha resposta: pela instrumentalidade da fé. Daí o apóstolo concluir que aqui nada é propriamente nosso. Da parte de Deus é graça somente, e nada trazemos senão a fé, a qual nos despede todo louvor, então segue-se que a salvação não procede de nós.

Não seria, pois, aconselhável manter silêncio acerca do livre-arbítrio, das boas intenções, das preparações inventadas, dos méritos e das satisfações? Nenhum desses deixa de reivindicar a participação no louvor da salvação do homem; de modo que o louvor devido à graça, no dizer de Paulo, não seria integral. Quando, por parte do homem, é posto exclusivamente na fé como única forma de se receber a salvação, então o homem rejeita todos os demais meios nos quais o ser humano costuma confiar. A fé, pois, conduz a Deus um homem vazio, para que o mesmo seja planificado com as bênçãos de Cristo. E assim o apóstolo adiciona: "não vem de" vós; para que, nada reivindicando para si mesmos, reconheçam unicamente a Deus como o Autor de sua salvação.

"É o dom de Deus". Em vez do que havia dito, que a salvação deles é de graça, ele agora afirma que ela é o dom de Deus. Em vez do que havia dito, "não vem de vós", ele agora diz: "não [vem] de obras". Daí descobrimos que o apóstolo não deixa ao homem absolutamente nada em sua busca da salvação. Pois nessas três frases o apóstolo envolve a substância de seu longo argumento nas Epístolas aos Romanos e aos Gálatas, ou seja: que a justiça que recebemos procede exclusivamente da misericórdia de Deus, a qual nos é oferecida em Cristo através do evangelho, e a qual é recebida única e exclusivamente por meio da fé, sem a participação do mérito procedente das obras.

A luz desta passagem torna-se fácil refutar os tolos sofismas pelos quais os papistas tentam esquivar-se do argumento. Paulo, nos dizem, eles, está falando acerca de cerimônias, ao dizer-nos que somos justificados sem [a participação de] obras [humanas]. Mas é perfeitamente certo que ele aqui não está tratando de algum gênero de obras, senão que rejeita a total justiça do homem, a qual consiste em obras - mais ainda: a totalidade do homem e de tudo o que ele tem de propriamente seu. E mister que observemos o contraste existente entre Deus e o homem, entre graça e obras. Por que, pois, Deus teria que ser contrastado com o homem, se a controvérsia concerne só a cerimônias?

Os papistas são compelidos a reconhecer que Paulo, aqui, atribui à graça de Deus toda a glória de nossa salvação. Mas a seguir engendram outra idéia, a saber: que isso foi dito em razão de Deus conceder "a primeira graça". Mas são na verdade insensatos ao imaginarem que terão sucesso nessa vereda, visto que Paulo exclui o homem e suas faculdades, não só do ponto de partida na obtenção da salvação, mas [o exclui] totalmente da própria salvação.

Mas são ainda mais imprudentes omitindo a conclusão: "para que ninguém se vanglorie". Algum espaço deve sempre ser reservado à vangloria humana, contanto que os méritos sejam de alguma valia à parte da graça. A afirmação de Paulo não pode vigorar, a menos que todo o louvor seja dedicado somente a Deus e à sua misericórdia. Comumente, porém, torcem o sentido deste texto e restringem a palavra 'dom' exclusivamente à fé. Mas Paulo não faz outra coisa senão reiterar sua afirmação anterior, usando outros termos. Ele não quer dizer que a fé é o dom de Deus, mas que a salvação nos é comunicada por Deus; ou, que tomamos posse dela mediante o dom divino.

"Porque somos obra sua". Ao excluir o contrário, o apóstolo prova o que diz, ou seja, que somos salvos pela graça, dizendo que nenhuma obra nos é de alguma utilidade para merecermos a salvação, porque todas as boas obras que porventura possuímos são os frutos da regeneração. Daí, segue-se que as próprias obras são uma parte da graça. Ao dizer que somos obra de Deus, sua intenção não é considerar a criação em geral, por meio da qual as pessoas nascem, senão que assevera que somos novas criaturas, as quais são formadas para a justiça pelo poder do Espírito de Cristo, e não pelo nosso próprio. Isso se aplica somente no tocante aos crentes, os quais, ainda que nascidos de Adão, ímpios e perversos, são espiritualmente regenerados pela graça de Cristo, e então começam a ser um novo homem. Portanto, tudo quanto em nós é porventura bom, provém da obra superna tural de Deus. E segue-se uma explicação; pois ele adiciona que somos obra de Deus em razão de sermos criados, não em Adão, mas em Cristo, e não para qualquer tipo de vida, mas para as boas obras.

E agora, o que fica para o livre-arbítrio, se todas as boas obras que de nós procedem foram comunicadas pelo Espírito de Deus? Que os leitores piedosos avaliem prudentemente as palavras do apóstolo. Ele não diz que somos assistidos por Deus. Ele não diz que a vontade é preparada e que, então, age por sua própria virtude. Ele não diz que o poder de escolher corretamente nos é conferido e que temos, a seguir, de fazer nossa própria escolha. Esse é o procedimento daqueles que tentam enfraquecer a graça de Deus (até onde podem), os quais estão habituados a sofismar. Mas o apóstolo diz que somos obra de Deus, e que tudo quanto de bom exista em nós é criação dele. O que ele pretende dizer é que o homem como um todo, para ser bom, tem de ser moldado pelas mãos divinas. Não a mera virtude de escolher corretamente, nem alguma preparação indefinida, nem assistência, mas é a própria vontade que é feitura divina. De outro modo, o argumento de Paulo seria sem sentido. Ele tenciona provar que o homem de forma alguma busca a salvação por sua própria iniciativa, mas que a adquire gratuitamente da parte de Deus. A prova consiste em que o homem nada é senão pela graça divina. Quem quer, pois, que apresente a mais leve reivindicação em favor do homem, excluindo a graça de Deus, lhe atribui a habilidade de obter a salvação.

"Criados para boas obras". Os sofistas, desviando-se do pensamento de Paulo, torcem este texto com o propósito de injuriar a justiça [procedente] da fé. Envergonhados de negar honestamente que somos justificados pela fé e cônscios de que fariam isso em vão, buscam guarida no seguinte gênero de subterfúgio: Somos justificados mediante a fé, porque a fé pela qual recebemos á graça de Deus é o ponto de partida da justiça; mas nos tornamos justos por meio da regeneração, porque, sendo renovados pelo Espírito de Cristo, andamos em boas obras. E assim fazem da fé a porta pela qual nos introduzimos na justiça, mas acreditam que a obtemos por meio das obras; ou, ao menos, definem justiça como sendo retidão, quando alguém é reformado para uma vida boa. Não me preocupa quão antigo esse erro venha ser; o fato é que o erro deles consiste em buscar neste texto apoio para tal conceito.

E mister que descubramos o propósito do apóstolo. Sua intenção é mostrar que nada levamos a Deus pelo quê ele fique endividado em relação a nós; mostra ainda que até mesmo as boas obras que praticamos procedem dele. Daí,segue-se que nada somos, senão por sua graciosa liberalidade. Ora, quando esses sofistas inferem que somos meio justificados através das obras, o que tem isso a ver com a intenção de Paulo ou com o tema que ora desenvolve? Uma coisa é discutir em que consiste a justiça, e outra é estudar a doutrina que não procede de nós mesmos, com o argumento de que nas boas obras não há nada procedente de nós, salvo o fato de que fomos moldados pelo Espírito de Deus para tudo o que é bom, e isso através da graça de Cristo. Quando Paulo define a causa da justiça, ele insiste principalmente neste ponto: que nossas consciências jamais desfrutarão de paz até que descansemos no perdão de nossos pecados. Mas aqui ele não trata de nada desse gênero. Todo o seu objetivo é provar que somos o que somos unicamente pela graça de Deus.

As "quais Deus de antemão preparou". Isto não se aplica ao ensino da lei, como o fazem os pelagianos, como se Paulo quisesse dizer que Deus ordena o que é justo e delineia uma regra apropriada de vida. Ao contrário, ele enfatiza o que começara a ensinar, ou seja, que a salvação não procede de nós mesmos. Diz ele que, antes que nascêssemos às boas obras haviam sido preparadas por Deus; significando que por nossas próprias forças não somos capazes de viver uma vida santa, mas só até ao ponto em que somos adaptados e moldados pelas mãos divinas. Ora, se a graça de Deus nos antecipou, então toda e qualquer base para vangloria ficou eliminada. Observemos criteriosamente o termo 'preparou'. O apóstolo mostra, à luz da própria seqüência, que, com respeito às boas obras, Deus não nos deve absolutamente nada. Como assim? Porque elas foram extraídas dos tesouros divinos, nos quais haviam sido antes geradas; pois a quem ele chamou, também justifica e regenera.



Um guia para discernimento.

Discernir é preciso[1]

Paulo Romeiro[2]


Devido ao fantástico avanço na área das comunicações, nenhuma outra geração na história foi tão bombardeada com a quantidade de informação com que somos hoje. Tais informações chegam quase que ininterruptamente até nós, invadindo nossos lares, escolas, locais de trabalho e igrejas. Parte delas surge de fontes cristalinas, promovendo a glória de Deus e o fortalecimento dos crentes, enquanto outras surgem de fontes insalubres, agredindo a ortodoxia da Igreja e causando prejuízo ao reino de Deus. Pode ser dito que o momento atual vivido pela Igreja é um tanto delicado. Para sobreviver espiritualmente em tais circunstâncias, o cristão, neste final de milênio, precisa de uma boa dose de discernimento.

De acordo com a enciclopédia bíblica tanto o verbo "discernir" quando o substantivo "discernimento" ocorrem apenas quatro vezes no Novo Testamento. Três destes termos gregos estão baseados no verbo krino (kritikós, anakrino, diakrino), que basicamente significam "peneirar" ou "distinguir", "selecionar" ou separar, recebendo também o significado comum de decidir ou julgar. O adjetivo kritikós, denotando "aquele que tem a forma de um juiz, que é capaz de julgar, que está engajando em julgar (...)" é empregado para a palavra de Deus em Hebreus 4.12 "Porque a Palavra de Deus é viva e eficaz, (...) e apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração". O verbo anakrino geralmente se refere a algum tipo de exame ou investigação judicial, Diakrino tem muitos sentidos diferentes; em geral, ele tende a reforçar o sentido krino. O quarto termo, aísthesis, não está
relacionado a krino e ocorre apenas uma vez no Novo Testamento. Ele é usado no sentido de distinção moral, que capacita alguém a aprovar o que é excelente (Fp. 1.9,10). W.E.Vine acrescenta ainda o verbo dokimazo, que significa testar, provar ou esquadrinhar

O crescimento espiritual saudável depende do exercício constante do discernimento. O crente deve exercitar a sua consciência, os sentidos e a mente para saber a diferença entre a verdade e o erro, entre o uso correto e incorreto das escrituras. Além disso, discernir não é uma opção, mas um mandamento bíblico: "Julgai todas as cousas, retende o que é bom" (1ts.5.21)

Os cuidados do crente.

O discernimento na vida do crente não é uma opção, mas um mandamento bíblico. João recomendou aos leitores que ficassem atentos, pois naquela época o gnosticismo já estava influenciando parte de seus leitores. Esta heresia ensinava que a verdade de Deus só poderia ser compreendida por um grupo especial, privilegiado, alem de negar verdades fundamentais quanto à pessoa de Cristo, como a encarnação e ressurreição. Por isso João então alertou: "Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora" (1Jo.4.1)

De acordo com o escritor do livro de Hebreus, o discernimento é uma das marcas da maturidade espiritual: "Ora, todo aquele que se alimenta de leite é inexperiente na palavra da justiça, porque é criança. Mas alimento sólido é para os adultos, para aqueles que pela prática, têm suas faculdades exercitadas para discernir não somente o bem como também o mal" (Hb.5.13-14). Infelizmente, o cenário espiritual hoje é muito pior do que nos dias da Igreja primitiva. Exigindo cuidados constantes do cristão...

Continua...

Andrezinho rupereta

Notas:

[1] Artigo extraido do livro "Evangélicos em crise - decadência doutrinária na igreja brasileira - editora Mundo Cristão - autor Paulo Romeiro.

[2] Paulo Romeiro é pastor ,mestre em teologia, jornalista, diretor da Agir (Agência de Informações Religiosas).




O HOMEM E A ESSÊNCIA DO PECADO [1].
Santo Agostinho


Deus é a bondade absoluta e o homem é o réprobo miserável condenado à danação eterna e só recuperável mediante a graça divina. Eis a cerne da antropologia agostiana.

Para o Bispo de Hipona,o homem é uma criatura privelegiada na ordem das coisas. Feito a semelhança de Deus, desdobra-se em correspondência com as três pessoas da Trindade. As expressões dessa correspondência encontra-se nas três faculdades da alma. A memória, enquanto persistencia de imagens produzidaspela percepção sensìvel, corresponderia a à essência (Deus Pai), aquilo que é e nunca deixa de ser; a inteligência seria o correlato do verbo, razão ou verdade (Filho); finalmente, a vontade constituiria a expressão humana do amor (Espírito Santo), responsável pela criação do mundo.

De todas essas faculdades, a mais importante é a vontade, intervindo em todos os atos do espírito e constituindo o centro da personalidade humana. A vontade seria essencialmente criadora e livre, e nela tem raizes a possibilidade de o homem afastar-se de Deus. Tal afastamento significa, porém, distanciar-se do ser e caminhar para o não-ser, isto é, aproximar-se do mal. Reside aqui a essência do pecado, que de maneira alguma é nescessário e cujo único responsável seria o próprio livre-arbítrio da vontade humana.

O pecado é, segundo Agostinho, uma transgressão da lei divina, na medida em que a alma foi criada por Deus para reger o corpo, e o homem, fazendo mau uso do livre-arbítrio, inverte essa relação, subordinando a alma ao corpo e caindo na conscupisciência e na ignorância. Voltada para a matéria, a alma acaba por secar-se pelo contato com o sensível, dando a ele o pouco de substância que lhe resta, esvaindo-se mo não-ser e considerando-se a si mesma como um corpo.

No estado de decadência em que se encontra, a alma não pode salvar-se por suas próprias forças. A queda do homem é de inteira responsabilidade do livre-arbitrio humano, mas este não é suficiente para fazê-lo retornar às origens divinas. A salvação não é apenas uma questão de querer, mas de poder. E esse poder é privilégio de Deus. Chega-se, assim, à doutrina da predestinação e da graça (acesse o link e leia o sermão de Agostinho sobre predestinação:http://migre.me/ZWnm ) uma das pedras de toque do agostinismo.

A graça é nescessária para que o homem possa lutar eficazmente contra as tentações da concupiscência. Sem ela o livre-arbitrio pode distinguir o certo do errado,mas não pode tornar o bem um fato concreto. A graça precede todos os esforços de salvação e é seu instrumento necessário. Ajunta-se ao livre-arbítrio sem, entretanto, negá-lo; é um fator de correção e não o negá-lo. Sem o auxílio da graça, o livre-arbítrio elegeria o mal; com ela, dirigi-se para o bem eterno.

Mas, segundo Agostinho, nem todos os homens recebem a graça das mãos de Deus; apenas alguns eleitos, que estão, portanto, predestinados a salvação. A propósito da graça, Agostinho polemizou durante anos com o monge Pelágio (c.360- c.420) e seus seguidores.Os pelagianistas insistiam no esforço que o homem deve despender para obter a salvação e encareciam a eficácia do livre-arbítrio. Com isso minimizavam a intervenção da graça, quando não chegavam a negá-la totalmente. A experiência pessoal de Agostinho, no entanto, atestava vigorosamente contra a tese de Pelágio e por causa disso reagiu decidida e,às vezes, violentamente.

A controvérsia jamais foi totalmente solucionada e os teólogos posteriores dividiram-se em torno fa questão. Calvino (1509-1564), por exemplo, levou as teses agostinianas às últimas consequências: Depois do pecado original, o homem está totalmente corrompido pela concupiscência e depende exclusiva e absolutamente da vontade divina a concessão da graça para a salvação.Outros aproximaram-se de Pelágion tentando restaurar o primado do livre-arbítrio e das ações humanas como fonte de salvação.

Agostinho tudo fez para conciliar as duas teses opostas. Por um lado a vontade é livre para escolher o pecado e aquele que peca é inteiramente responsável por isso, e não Deus; da mesma forma, aquele que age segundo o bem divino não deve esquecer que sua própria vontade concorreu para essa boa obra. Por outro lado, a graça seria soberanamente eficaz, pois a vontade não é capaz de nenhum bem sem seu concurso. A graça e a liberdade não se excluem, antes se completam-se.

A teoria da graça e da predestinação constitui o cerne da antropologia agostiniana. Da mesma forma, a dualidade dos eleitos e dos condenados é a estrutura explicativa da história, exposta na Cidade de Deus. Nessa obra repetem-se também as oposições entre intelegível e sensível, alma e corpo, espírito e matéria, bem e mal, ser e não-ser sintetizando os aspectos essenciais do pensamento de Agostinho.

A história é vista pelo bispo de Hipona como resultado so pecado original de Adão e Eva, que se transferiu a todos os homens. Aqueles que nele persistem constroem a cidade humana, ou terrena, onde são permanentemente castigados. Os eleitos pela graça divina edificam a Cidade de deus e vivem em bem-aventurança eterna. A construção progressiva da Cidade de Deus seria, pois, a grande obra começada depois da criação e incessantemente continuada. Ela daria sentido à história e todos os fatos ocorridos trariam a marca da providência divina. Caim, o dilúvio, a servidão dos hebreus aos egípcios, os impérios assírio e romeno, são expressões da cidade terrena.Ao contrário,Abel, o episódio da arca de Nóe, Abraâo, Moisés, a época dos profetas e sobretudo, a vinda de Jesus, são manifestações da Cidade de Deus.

Agostinho assim pensava porque estava contemplando a destruição final do Império Romano, depois do saque de Roma por Alarico (c.370-410) em 410, e precisava dar uma resposta aos que acusavam o cristianismo de responsável pelo desastre. Para Agostinho, não era um desastre; era apenas a mão de Deus castigando os homens da cidade terrena e anunciando o triunfo do cristianismo.

Estava findando a Antiguidade e preparando-se a Idade Média. A nova era dominada pela palavra do Bispo de Hipona, pois ninguém como ele tinha conseguido, na filosofia ligada ao cristianismo, atingir tal profundidade e amplitude de pensamento.Vinculou a filosofia grega, especialmente Platão, aos dogmas cristãos, mas, quando isso não foi possível, não teve dúvida em optar pela fé na palavra revelada.Combateu vigorosamente o maniqueísmo, enquanto teoria metafisica.embora permanecesse visceralmente impregnado de uma concepção nitidamente dualista que contrapunha o homem a Deus, o mal ao bem,as trevas a luz.

Nota: [1] O texto exposto é para demonstrar que na verdade a doutrina Calvinista, inicia-se em Agostinho e não em Calvino como muito ensinam.

FONTE: OS PENSADORES / SANTO AGOSTINHO.- EDITORA NOVA CULTURAL LTDA. - AUTOR: JOSÉ AMÉRICO MOTTA PESSANHA.

MENTESANTA





A PREDESTINAÇÃO DOS SANTOS

(c. 10 e 15: P.L. 44, 974s. 981s)

Santo Agostinho

A diferença entre a predestinação a graça

Entre a graça e a predestinação existe unicamente esta diferença que a predestinação é uma preparação para a graça, e a graça é já a doação efetiva da predestinação.

E assim, o que diz o Apóstolo: “(a salvação) não provém das obras, para que ninguém se vanglorie; pois somos todos obra de Deus, criados no Cristo Jesus para realizar boas obras” [Ef 2,9s] significa a graça; mas o que segue: “as quais Deus de antemão dispôs para caminharmos nelas”, significa a predestinação, que não se pode dar sem a presciência, por mais que a presciência possa existir sem a predestinação.

Pela predestinação, Deus teve presciência das coisas que haveria de realizar; por isto; foi dito: “Ele fez o que ia ser” [Is 45 seg. os LXX]. Mas a presciência pode versar também sobre as coisas que Deus não faz como o pecado - de qualquer espécie que seja. Embora haja pecados que são castigos de outros pecados, conforme foi dito: “entregou-os Deus a uma mentalidade depravada, para que fizessem o que não convinha” [Rm 1,28], não há nisto pecado per parte de Deus, mas justo juízo. Portanto, a predestinação divina, que versa sobre o que é bom, e uma preparação, para graça, como já disse, sendo que a graça é efeito da predestinação. Por isto, quando Deus prometeu a Abraão a fé de muitos povos, dentro de sua descendência, disse: “eu te fiz pai de muitas nações” [Gn 17,4s], e o Apóstolo comenta: “assim é em virtude da fé, para que, por graça, seja a promessa estendida a toda a descendência” [Rm 4,16]: a promessa não se baseia na nossa vontade, mas na predestinação.

Deus prometeu, não o que os homens realizam, mas o que Ele mesmo havia de realizar. Se os homens praticam boas obras no que se refere ao culto divino, provém de Deus cumprirem eles o que lhes mandou, não provém deles que Deus cumpra o que prometeu; de outro modo, teria provindo da capacidade humana, e não do poder divino, que se cumprissem as divinas promessas, irias em tal caso os homens teriam dado a Abraão o que Deus lhe prometera! Não foi assim que Abraão creu; ele “creu, dando glória a Deus e convencido de que Deus era poderoso para realizar sua promessa” [Rm 4,21]. O Apóstolo não emprega o verbo “predizer” ou “pré conhecer” (na verdade Deus é poderoso para predizer e pré-conhecer as coisas), mas ele diz: “poderoso para realizar”, e, portanto, não obras alheias, mas suas.

Pois bem; porventura prometeu Deus a Abraão que em sua descendência haveria as boas obras dos povos, como coisa que Ele realiza, sem prometer também a fé - como se esta fosse obra dos homens? E então Ele teria tido, quanto a essa fé, apenas “presciência”? Não é certamente o que diz o Apóstolo, mas sim que Deus prometeu a Abraão filhos, os quais seguiriam suas pisadas no caminho da fé: isto o afirma clarissimamente.

Jesus Cristo, exemplar supremo da predestinação

O mais ilustre exemplar da predestinação e da graça é o próprio Salvador do mundo, mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo. Pois para chegar a ser tudo isto, com que méritos anteriores - seja de obras, seja de fé - pode contar a natureza humana que nele reside?

Peço que me responda: aquele homem [A palavra “homem” significa aqui, conforme se vê pelo contexto que “natureza humana”, embora não no sentido genérico desta expressão] que foi assumido, em unidade de pessoa, pelo Verbo eterno com o Pai, para ser Filho Unigênito de Deus, de onde mereceu isto? Houve algum mérito que tivesse ocorrido antes? Que fez ele, que creu que pediu previamente para chegar a tal inefável excelência? Não foi acaso pela virtude e assunção do mesmo Verbo que aquele homem, desde que, começou a existir, começou a ser Filho único de Deus? Não foi acaso o Filho único de Deus aquele que a mulher, cheia de graça, concebeu? Não foi o único Filho de Deus quem nasceu da Virgem Maria, por obra do Espírito Santo, sem a concupiscência da carne e por graça singular de Deus? Acaso se pôde temer que aquele homem chegasse a pecar, quando crescesse na idade e usasse o livre arbítrio? Acaso carecia de vontade livre ou não era esta tanto mais livre, nele, quanto mais impossível que estivesse sujeita ao pecado? Todos estes dons, singularmente admiráveis, e outros ainda, que se possam dizer, em plena verdade, serem dele, recebeu-os de maneira singular, nele, a nossa natureza humana sem que houvesse quaisquer merecimentos precedentes.

Interpele então alguém a Deus e diga-lhe: “por que também não sou assim?” E se, ouvindo a repreensão: “ó homem, quem és tu para pedires contas a Deus” [Rm 9,20], ainda persistir interpelando, com maior imprudência: “por que ouço isto: ó homem, quem és tu? pois se sou o que estou escutando, isto é, homem - como o é aquele de quem estou falando - por que não hei de ser o mesmo que ele?” Pela graça de Deus ele é tão grande e tão perfeito! E por que é tão diferente a graça, se a natureza é igual? Certamente, não existe em Deus acepção de pessoas [Cl 3,25]: quem seria o louco, já nem digo o cristão, que o pensasse?

Fique manifesta, portanto, para nós, naquele que é nossa cabeça, a própria fonte da graça que se difunde por todos os seus membros, conforme a medida de cada um. Tal é a graça, pela qual se faz cristão um homem desde o momento em que principia a crer; e pela qual o homem unido ao Verbo, desde o primeiro momento seu, foi feito Jesus Cristo. Fique manifesto que essa graça é do mesmo Espírito Santo, por obra de quem Cristo nasceu e por obra de quem cada homem renasce; do mesmo Espírito Santo, por quem se verificou a isenção de pecado naquele homem e por quem se verifica em nós a remissão dos pecados.

Deus, sem dúvida, teve a presciência de que realizaria tais coisas. É esta a predestinação dos santos, que se manifesta de modo mais eminente no Santo dos santos; quem poderia negá-lo, dentre os que entendem retamente os ensinamentos da verdade? Pois sabemos que também o Senhor da glória foi predestinado, enquanto homem tornado Filho de Deus. Proclama-o Doutor das Gentes no começo de suas epístolas: “Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo, escolhido para o Evangelho de Deus, que Ele de antemão havia prometido por meio dos profetas, nas santas Escrituras, acerca de seu Filho o que nasceu da estirpe de Davi segundo a carne e foi constituído Filho de Deus, poderoso segundo O Espírito de santidade desde sua ressurreição entre os mortos” [Rm 1,1-4]. Jesus foi, portanto, predestinado: aquele que segundo a carne haveria de ser filho de Davi seria também Filho de Deus poderoso, segundo o Espírito da santificação, pois nasceu do Espírito Santo e da Virgem.

MENTESANTA



No mês de junho de 2002 o sínodo da diocese anglicana de New Westminster autorizou o seu bispo a realizar uma liturgia para a bênção de uniões entre pessoas do mesmo sexo. Essa liturgia é para ser utilizada em qualquer paróquia da dioceses que venha a solicitá-la. Vários membros do sínodo se retiraram para protestar esta decisão. Eles se declararam a si mesmos fora de comunhão com aqueles bispos e com o sínodo e apelaram ao Arcebispo da Cantuária e a outras autoridades e bispos da Igreja Anglicana, solicitando ajuda.

J. I. Packer, editor executivo da revista Christianity Today, foi um dos que se retiraram. Muitas pessoas têm lhe perguntada o por que desta atitude. Apesar de uma das partes da sua resposta se aplicar especificamente aos anglicanos, o seu raciocínio mais abrangente pode dar direcionamento a qualquer cristão que está perturbado pelos desenvolvimentos em progresso dentro de sua igreja ou denominação.

Por que me retirei com os demais? Porque esta decisão, dentro do seu contexto, falsifica o evangelho de Cristo, abandona a autoridade das Escrituras, prejudica a salvação de outros seres humanos e representa uma traição à igreja, no que diz respeito ao seu papel recebido de Deus, de ser a fortaleza e baluarte da verdade divina.

Minha autoridade principal é um escritor bíblico chamado Paulo. Durante muitas décadas eu tenho feito esta pergunta a mim mesmo a cada esquina da minha jornada teológica: Paulo estaria caminhando comigo na direção em que estou indo? O que diria ele, se estivesse no meu lugar? Nunca ousei me pronunciar sobre alguma coisa sobre a qual eu não tivesse uma boa razão para acreditar que eu teria o endosso dele.

Na primeira carta aos coríntios lemos algo que parece ter sido escrito a algumas pessoas que ensinavam um tipo de antinomianismo espiritual:

"Não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbedos, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o reino de Deus. E tais fostes alguns de vós; mas fostes lavados, mas fostes santificados, mas fostes justificados em nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus".

Para nos certificarmos de que compreendemos o que Paulo está dizendo, neste trecho, faço algumas perguntas:

Primeiro: A que Paulo está se referindo, quando ele relaciona essa lista de vícios? Resposta: A estilos de vida, a formas repetitivas de comportamento, a hábitos de mente e de ação. Ele não tem em mente quedas pontuais seguidas de arrependimento, perdão e (com a ajuda de Deus) maior vigilância contra recaídas; mas estilos de vida nos quais alguns de seus leitores estavam se inserindo, acreditando que não havia nenhum dano neles, para o Cristão.

Segundo: O que é que Paulo está dizendo sobre esses hábitos? Resposta: Eles são caminhos pecaminosos e se não houver arrependimento e renúncia a esse caminhar, aquelas pessoas, que assim se identificam, estarão fora do Reino de Deus quanto à salvação. Claramente identificamos na atitude expressa por essas pessoas, auto-indulgência, auto-gratificação, ausência de auto-disciplina e de abnegação bem como uma falta de discernimento moral subsistindo no fundo de seus corações.

Terceiro: O que Paulo está dizendo sobre a homossexualidade? Resposta: Aqueles que declaram pertencer a Cristo deveriam evitar a prática de conexão física com o mesmo sexo com fins de gratificação sexual, seguindo o modelo do coito heterossexual. As expressões de Paulo - "efeminados" e" sodomitas" - homens que praticam a homossexualidade, como temos em algumas traduções se referem às duas palavras gregas que identificam as pessoas envolvidas nesses atos. A primeira, arsenokotai, significa, literlamente," aquele que se deita com um macho" - isso parece suficientemente claro. A segunda palavra, malakoi, é utilizada em muitas conexões com o significado de "não masculino", "relativo a mulher" e "efeminado"; aqui a referência é à pessoa do sexo masculino que se presta ao papel da mulher no contato sexual físico.

Neste contexto, no qual Paulo utiliza dois termos para caracterizar desvios comportamentais sexuais, não existe campo para duvidar o que passava em sua mente. Ele deve ter conhecido, como cristãos contemporâneos conhecem, que alguns homens são atraídos por homens em vez de por mulheres, mas ele não está falando de inclinações, somente de comportamento; daquilo que, mais recentemente, tem sido chamado de "assumir". O seu ponto é que os cristãos têm que resistir esses impulsos, uma vez que exteriorizá-los em ação não pode agradar a Deus e demonstrará impenitência letal. Romanos 1.26 mostra que Paulo haveria falado de forma similar quanto ao comportamento lésbico, se existisse razão para ser mencionado nesta mesma passagem.

Quarto: O que é que Paulo está afirmando sobre o evangelho? Resposta: aqueles que, como pecadores perdidos, entregam-se a Cristo em fé genuína assim recebendo o Espírito Santo, como todos os cristãos o recebem (ver Gl 3.2), recebem transformação nessa transação. Eles recebem uma limpeza de consciência (a lavagem do perdão), a aceitação da parte de Deus (justificação) e a força para resistir e não externar as tentações específicas que experimentam (santificação). Assim um amigo meu, pregador, se expressou à sua congregação: "quero que vocês saibam que eu sou um adúltero não praticante". Desta forma ele testemunhava ter recebido o fortalecimento da parte de Deus.

Com alguns crentes da igreja de Corinto, Paulo estava celebrando o a concessão de poder moral advindo do Espírito Santo, no campo heterossexual; junto com aqueles membros da igreja de Corinto, os homossexuais de hoje são conclamados a provar, viver e celebrar o recebimento deste poder moral do Espírito Santo, no campo homossexual. Um outro amigo meu, a quem eu conheci durante 30 anos, viveu com desejos homossexuais durante toda a sua vida adulta, mas permaneceu um esposo e pai fiel, casto, sexualmente, pelo poder do Espírito Santo, de acordo com o evangelho. Ele é um modelo em todos os sentidos. Todos nós sofremos tentações sexuais, de uma maneira ou de outra, mas podemos todos caminhar a jornada da castidade, assim possibilitados pelo Espírito, agradando, desta forma, a Deus.


Perdendo o foco do pensamento de Paulo

Presumindo a plena seriedade e sinceridade de todos os que atualmente se envolvem no debate, entre cristãos, com relação à homossexualidade, tanto na diocese de New Westminster, como em qualquer outro local, preciso perguntar: como uma pessoa pode deixar de entender a contundência do que Paulo diz aqui? Creio que existem duas maneiras disso acontecer.

A primeira maneira, a mais fácil de se lidar, é a maneira da exegese especial. Com isso quero me referir às interpretações que, mesmo que possíveis, são artificiais e não ocorrem naturalmente, mas que levam alguém a dizer: "o que Paulo está condenando não é o tipo de união de pessoas entre o mesmo sexo que eu estou propondo". Eu concordo que considerar que uma linha de interpretação é artificial - e assim se constitui em uma interpretação errada -, é uma questão de juízo próprio. Eu não conheço, entretanto, qualquer pessoa com um raciocínio razoável que possa o livro de
500 páginas de Robert A. J. Gagnon - "A Bíblia e a prática homossexual: Textos e hermenêutica" (Abingdon, 2001), que não venha a concluir que qualquer exegese que evite o significado claro do que Paulo está ensinando está fugindo à questão. E de agora em diante eu não posso considerar ninguém realmente qualificado a debater o assunto da homossexualidade que não tenha se envolvido no exame enciclopédico de Gagnon de todas as passagens relevantes e em todas as hipóteses exegéticas que existem, relacionadas com esses trechos. Nem sempre tenho concordado com James Barr, mas quando, na capa do livro ele descreve o tratado de Gagnon como "indispensável até para os que discordam do autor", penso que ele está absolutamente correto.

O segunda maneira, que é mais difícil de lidar com ela, é permitir que a experiência julgue a Bíblia. Algumas pessoas modernas, alicerçadas na propaganda advinda dos partidários da igualdade homossexual, e que têm os corações possuídos pelo mito pseudo-freudiano, de que é praticamente impossível você ser uma pessoa sadia sem expressar-se ativamente na área sexual, sentem-se no direito de dizer: "Nossa experiência é - ou, em outras palavras, sentimos - que as uniões gay são boas, então a proibição bíblica deve estar errada". A resposta natural é a de que a Bíblia deve julgar a nossa experiência em vez do contrário; e que os sentimentos de excitação e atração sexual, que geram uma importância enorme e uma necessidade de realização de ações correspondentes - o que ocorre, não podem ser confiados como um caminho de vida sábia ou como um guia de interpretação bíblica. Fazendo uma rima com o princípio, como era comum em minha infância: O desejo sexual / E seu fogo sensual / É mentiroso mortal. Mas é necessário afirmarmos mais algumas coisas.


Dois pontos de vista sobre a Bíblia

A questão aqui representa um enorme desfiladeiro - a diferença entre a natureza da Bíblia e a forma que ela transmite a mensagem de Deus aos leitores modernos. Duas posições se desafiam mutuamente. Uma é a crença cristã histórica de que, através dos profetas, do Filho encarnado, dos apóstolos e dos escritores das Escrituras canônicas, como um todo, Deus utilizou linguagem humana para nos relatar, de maneira definida e transcultural, sobre os seus caminhos, as suas obras, a sua vontade e a sua adoração. Além disso, essa verdade revelada é compreendida deixando a Bíblia interpretar-se a sim mesma, de dentro para fora, na convicção de que o caminho à mente de Deus é o dos autores das Escrituras. Através deles, o Espírito Santo que os inspirou, ensina a igreja. Finalmente, uma das marcas da percepção bíblica sã, é que essas interpretações não contradizem nada mais, dentro do cânon. Esta é a posição das igreja Católico-romanas e Ortodoxas, dos evangélicos e de outros protestantes conservadores. Existem diferenças sobre o papel da igreja, nesse processo de interpretação, mas todos concordam que o processo é como o descrevi. Eu chamaria essa posição de objetivista.

A segunda visão aplica ao cristianismo a impulsão iluminista da razão humana, juntamente com a pressuposição evolucionista que está em moda, de que o presente é sempre mais sábio do que o passado. Ela chega à conclusão que a sabedoria está no mundo e a igreja deve correr atrás para se atualizar intelectualmente, a cada geração, para que possa sobreviver. Partindo desse alicerce, tudo na Bíblia torna-se relativo às percepções da igreja que estão sempre em evolução; essas, por sua vez, são relativas ao desenvolvimento contínuo da sociedade (nada permanece firme); e o ministério de ensino do Espírito Santo serve para auxiliar o fiel a verificar onde as doutrinas bíblicas demonstram as limitações culturais da antigüidade e as necessidades de ajuste, à luz da experiência dos últimos dias (encontros, interações, perplexidades, estados de mente e emoções, e assim por diante). Uniões entre pessoas do mesmo sexo constituem um exemplo disso. Este ponto de vista não tem mais de 50 anos de idade, apesar dos seus antecedentes terem raízes muito mais remotas. Eu chamaria essa posição da posição subjetivista.

No debate da diocese de New Westminster, os subjetivistas dizem que o que está sendo questionado não é a autoridade das Escritura, mas a sua interpretação. Eu não questiono a sinceridade daqueles que afirmam isso, mas tenho minhas dúvidas sobre a clareza de pensamento dessas cabeças. A forma do subjetivista para afirmar a autoridade das Escrituras, como fonte de ensinamento que precisa agora ser ajustada, é, precisamente, uma negação da autoridade das Escrituras, do ponto de vista do objetivista - clareza demanda que afirmemos assim. A autoridade relativa de especialistas religiosos do passado, que agora precisa ser turbinada no nosso mundo ocidental pós-cristão, de múltiplas fés, em constante evolução - é um ponto de vista. A autoridade absoluta das declarações imutáveis de Deus, colocadas perante nós para serem aprendidas, cridas e obedecidas - como as principais igrejas o têm feito, sem se importar o que o mundo pensa disso - é o outro ponto de vista.

Aquelas que estão sendo apresentadas como sendo diferentes "interpretações" são, na realidade reflexos do que é definitivo: em um dos pontos de vista, o ensinamento doutrinário e moral das Escrituras é sempre a última palavra; no outro ponto de vista, nunca é uma palavra final. O que é definitivo, para os expositores desse ponto de vista, não o que diz a própria Bíblia, mas o que produzem suas próprias mentes na medida em que procuram encaixar o ensinamento bíblico com a sabedoria do mundo.

Cada um desses pontos de vista sobre a autoridade bíblica enxerga o outro como falso e desastroso, e cada um tem a certeza que o bem do cristianismo, a longo prazo, requer que o ponto de vista oposto seja abandonado e deixado para trás o mais rápido possível. O conflito contínuo entre eles, que aflora na discordância sobre as uniões de pessoas do mesmo sexo, é uma luta até a morte, na qual ambos os lados estão certos de que têm no coração os melhores interesses da igreja. É um grande erro, na realidade até um erro crasso, rotular essa discordância simplesmente de uma diferença de interpretações, como as que sempre encontraram espaço providenciado pela abrangência anglicana.


Perigos espirituais

Além disso, muitas questões espirituais estão envolvidas nisso. Abençoar liturgicamente uniões de pessoas do mesmo sexo é pedir a Deus que abençoe a eles e àqueles que se juntam a eles, como é feito numa cerimônia de casamento. Isso presume que o relacionamento, do qual a união física é uma parte integral, é intrinsecamente bom e, se podemos criar um termo, é abençoável da mesma forma que é um relacionamento sexual destinado à procriação, dentro de um casamento heterossexual. Sobre essa pressuposição existem três coisas a comentar.

Primeiro, ela envolve um desvio do evangelho bíblico e do credo cristão histórico. Ela distorce as doutrinas da criação e do pecado, afirmando que a orientação homossexual é boa, uma vez que as pessoas gays são feitas dessa maneira; rejeitando a idéia de que as inclinações homossexuais são uma desordem espiritual, mais um sinal e fruto do pecado original no sistema moral das pessoas. Ela distorce as doutrinas da regeneração e da santificação, chamando a união entre pessoas do mesmo sexo de um relacionamento cristão, assim afirmando o que a Bíblia chamaria de salvação" no pecado", em vez de "do pecado".

Segundo: ela ameaça destruir o meu próximo. A proposta oficial disse que os ministros que, como eu, forem contrários a dar este tipo de bênção, deveriam remeter os casais gays a ministros que tenham a disposição de conceder tal bênção. Seria isso cuidado pastoral? Será que eu não deveria tentar auxiliar as pessoas gay a modificar os seus comportamentos, em vez ancorá-los neles? Será que eu não deveria auxiliá-los na prática da castidade, da mesma forma que eu tento ajudar os solteiros eriçados e os divorciados na pratica da castidade? Eu não quero vê-los todos no reino de Deus?

Terceiro, ela envolve o engano de estar esperando de Deus - na realidade, solicitando dele - que venha santificar o pecado, abençoando o que ele condena. Isso é uma postura irresponsável, irreverente, na realidade,é blasfêmia e totalmente inaceitável como política eclesiástica. Como eu poderia praticá-la?


Mudando uma tradição histórica

Finalmente, está envolvida aqui uma drástica mudança no anglicanismo: a escrita em uma constituição de uma diocese de algo que as Escrituras, interpretadas canonicamente, claramente e sem ambigüidades rejeita como pecado. Isso nunca foi feito antes e não deveria ser feito agora.

Todos os padrões escritos do anglicanismo pós-reforma têm sido intencionalmente bíblicos e universais. Têm sido bíblicos no que diz respeito à visão histórica da natureza e autoridade das Escrituras. Têm sido universais no que diz respeito ao consenso histórico da igreja. Muitas excentricidades e variações individuais têm sido toleradas na prática. As controvertidas e recentes permissões para realizar o casamento de divorciados e ordenar mulheres ao presbiterato têm tido argumentos construídos de permissões bíblicas, apesar de correntes minoritárias disputarem essa posição. Em termos bíblicos e universais, entretanto, a decisão da diocese de New Westminster registra a legitimação do pecado nos padrões constitucionais da diocese.

Ela categoriza os abstêmios tolerados como o esquadrão canhestro de excêntricos em vez de como a corrente principal de anglicanos, como eram antes considerados. Essa decisão, portanto, somente pode ser justificada apelando-se para o relativismo bíblico; é um visão nova do que é autoridade bíblica e, na minha concepção, uma aranha que tece uma teia na igreja anglicana, uma heresia em seus próprios méritos. É uma decisão devastadora para o anglicanismo em escala mundial, porque modifica a natureza do próprio anglicanismo. Precisa ser revertida.

A resposta de Lutero, em Worms, quando lhe perguntaram se ele retratava o que havia escrito, ecoa em minha memória, como tem ressoado por mais de cinqüenta anos: "A não ser que possam me provar pelas Escrituras e pelo raciocínio simples que estou errado, eu não posso e não irei me retratar. Minha consciência está cativa à Palavra de Deus. Ir contra a consciência nem é correto nem seguro [coloca a alma em perigo]. Aqui permaneço. Não há nada que eu possa fazer. Deus me ajude. Amém".

Consciência é aquele poder da mente sobre o qual não temos poder, que nos prende à crença do que vemos ser verdadeiro e do que vemos ser correto. A consciência cativa à Palavra de Deus, isto é, aos absolutos com a autoridade de Deus, nos ensinamentos da Bíblia, é o cristianismo integral e autêntico.

Lembro-me de mais palavras de Lutero: "Se eu professar com a mais alta voz e a exposição mais clara cada porção da verdade de Deus, exceto aquela que o mundo e o diabo estão ocupados em atacar, no exato momento, não estou confessando a Cristo, apesar de quão ousadamente eu possa professar a Cristo. No calor da batalha é quando a lealdade do soldado é provada; estar firme no campo de batalha, mas se esquivar em algum ponto, é uma mera fuga e uma desgraça".

Qual era a forma de protesto? Era votar "não" a coisa certa a fazer? A fidelidade a Cristo e a confissão fiel a Cristo requeria isso? Assim parece. Se é assim, então nossa tarefa é permanecer firme, vigiar, orar e lutar por coisas melhores: pela verdadeira autoridade da Bíblia, pela "verdade verdadeira" do evangelho e pela salvação de pessoas gays, as quais estimamos.

Autor do texto : J.I. Packer

Tradução: Pb. Solano Portela

fonte: http://www.monergismo.net.br

Andrezinho rupereta

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