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Author: mentesanta



O HOMEM E A ESSÊNCIA DO PECADO [1].
Santo Agostinho


Deus é a bondade absoluta e o homem é o réprobo miserável condenado à danação eterna e só recuperável mediante a graça divina. Eis a cerne da antropologia agostiana.

Para o Bispo de Hipona,o homem é uma criatura privelegiada na ordem das coisas. Feito a semelhança de Deus, desdobra-se em correspondência com as três pessoas da Trindade. As expressões dessa correspondência encontra-se nas três faculdades da alma. A memória, enquanto persistencia de imagens produzidaspela percepção sensìvel, corresponderia a à essência (Deus Pai), aquilo que é e nunca deixa de ser; a inteligência seria o correlato do verbo, razão ou verdade (Filho); finalmente, a vontade constituiria a expressão humana do amor (Espírito Santo), responsável pela criação do mundo.

De todas essas faculdades, a mais importante é a vontade, intervindo em todos os atos do espírito e constituindo o centro da personalidade humana. A vontade seria essencialmente criadora e livre, e nela tem raizes a possibilidade de o homem afastar-se de Deus. Tal afastamento significa, porém, distanciar-se do ser e caminhar para o não-ser, isto é, aproximar-se do mal. Reside aqui a essência do pecado, que de maneira alguma é nescessário e cujo único responsável seria o próprio livre-arbítrio da vontade humana.

O pecado é, segundo Agostinho, uma transgressão da lei divina, na medida em que a alma foi criada por Deus para reger o corpo, e o homem, fazendo mau uso do livre-arbítrio, inverte essa relação, subordinando a alma ao corpo e caindo na conscupisciência e na ignorância. Voltada para a matéria, a alma acaba por secar-se pelo contato com o sensível, dando a ele o pouco de substância que lhe resta, esvaindo-se mo não-ser e considerando-se a si mesma como um corpo.

No estado de decadência em que se encontra, a alma não pode salvar-se por suas próprias forças. A queda do homem é de inteira responsabilidade do livre-arbitrio humano, mas este não é suficiente para fazê-lo retornar às origens divinas. A salvação não é apenas uma questão de querer, mas de poder. E esse poder é privilégio de Deus. Chega-se, assim, à doutrina da predestinação e da graça (acesse o link e leia o sermão de Agostinho sobre predestinação:http://migre.me/ZWnm ) uma das pedras de toque do agostinismo.

A graça é nescessária para que o homem possa lutar eficazmente contra as tentações da concupiscência. Sem ela o livre-arbitrio pode distinguir o certo do errado,mas não pode tornar o bem um fato concreto. A graça precede todos os esforços de salvação e é seu instrumento necessário. Ajunta-se ao livre-arbítrio sem, entretanto, negá-lo; é um fator de correção e não o negá-lo. Sem o auxílio da graça, o livre-arbítrio elegeria o mal; com ela, dirigi-se para o bem eterno.

Mas, segundo Agostinho, nem todos os homens recebem a graça das mãos de Deus; apenas alguns eleitos, que estão, portanto, predestinados a salvação. A propósito da graça, Agostinho polemizou durante anos com o monge Pelágio (c.360- c.420) e seus seguidores.Os pelagianistas insistiam no esforço que o homem deve despender para obter a salvação e encareciam a eficácia do livre-arbítrio. Com isso minimizavam a intervenção da graça, quando não chegavam a negá-la totalmente. A experiência pessoal de Agostinho, no entanto, atestava vigorosamente contra a tese de Pelágio e por causa disso reagiu decidida e,às vezes, violentamente.

A controvérsia jamais foi totalmente solucionada e os teólogos posteriores dividiram-se em torno fa questão. Calvino (1509-1564), por exemplo, levou as teses agostinianas às últimas consequências: Depois do pecado original, o homem está totalmente corrompido pela concupiscência e depende exclusiva e absolutamente da vontade divina a concessão da graça para a salvação.Outros aproximaram-se de Pelágion tentando restaurar o primado do livre-arbítrio e das ações humanas como fonte de salvação.

Agostinho tudo fez para conciliar as duas teses opostas. Por um lado a vontade é livre para escolher o pecado e aquele que peca é inteiramente responsável por isso, e não Deus; da mesma forma, aquele que age segundo o bem divino não deve esquecer que sua própria vontade concorreu para essa boa obra. Por outro lado, a graça seria soberanamente eficaz, pois a vontade não é capaz de nenhum bem sem seu concurso. A graça e a liberdade não se excluem, antes se completam-se.

A teoria da graça e da predestinação constitui o cerne da antropologia agostiniana. Da mesma forma, a dualidade dos eleitos e dos condenados é a estrutura explicativa da história, exposta na Cidade de Deus. Nessa obra repetem-se também as oposições entre intelegível e sensível, alma e corpo, espírito e matéria, bem e mal, ser e não-ser sintetizando os aspectos essenciais do pensamento de Agostinho.

A história é vista pelo bispo de Hipona como resultado so pecado original de Adão e Eva, que se transferiu a todos os homens. Aqueles que nele persistem constroem a cidade humana, ou terrena, onde são permanentemente castigados. Os eleitos pela graça divina edificam a Cidade de deus e vivem em bem-aventurança eterna. A construção progressiva da Cidade de Deus seria, pois, a grande obra começada depois da criação e incessantemente continuada. Ela daria sentido à história e todos os fatos ocorridos trariam a marca da providência divina. Caim, o dilúvio, a servidão dos hebreus aos egípcios, os impérios assírio e romeno, são expressões da cidade terrena.Ao contrário,Abel, o episódio da arca de Nóe, Abraâo, Moisés, a época dos profetas e sobretudo, a vinda de Jesus, são manifestações da Cidade de Deus.

Agostinho assim pensava porque estava contemplando a destruição final do Império Romano, depois do saque de Roma por Alarico (c.370-410) em 410, e precisava dar uma resposta aos que acusavam o cristianismo de responsável pelo desastre. Para Agostinho, não era um desastre; era apenas a mão de Deus castigando os homens da cidade terrena e anunciando o triunfo do cristianismo.

Estava findando a Antiguidade e preparando-se a Idade Média. A nova era dominada pela palavra do Bispo de Hipona, pois ninguém como ele tinha conseguido, na filosofia ligada ao cristianismo, atingir tal profundidade e amplitude de pensamento.Vinculou a filosofia grega, especialmente Platão, aos dogmas cristãos, mas, quando isso não foi possível, não teve dúvida em optar pela fé na palavra revelada.Combateu vigorosamente o maniqueísmo, enquanto teoria metafisica.embora permanecesse visceralmente impregnado de uma concepção nitidamente dualista que contrapunha o homem a Deus, o mal ao bem,as trevas a luz.

Nota: [1] O texto exposto é para demonstrar que na verdade a doutrina Calvinista, inicia-se em Agostinho e não em Calvino como muito ensinam.

FONTE: OS PENSADORES / SANTO AGOSTINHO.- EDITORA NOVA CULTURAL LTDA. - AUTOR: JOSÉ AMÉRICO MOTTA PESSANHA.

MENTESANTA




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