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Author: mentesanta

Eleição em Rm 8.28-39 à Luz da Eleição e Apostasia de Israel

B. J. Oropeza

(“Excursus: Election in Romans 8:28-39 in Light of Israel’s Election and Apostasy,” em Paul and Apostasy: Eschatology, Perseverance, and Falling Away in the Corinthian Congregation, 206-10)

Nossa perspectiva de 1Co 10 e Rm 9-11 lança dúvidas sobre a hipótese de que a eleição incondicional para a perseverança final é uma garantia para o cristão individualmente (conforme alguns supõem a partir de Rm 8.28-39). Visto que Paulo em Rm 9-11 parece considerar tanto Israel quanto os cristãos como corporativamente eleitos, isto pode contribuir para que alguém interprete a perspectiva de Paulo da eleição quando a perseverança final está em vista na carta. Como em 1Co 10, a linguagem da eleição em Rm 11 é aplicada tanto a judeus (11.28f cf. 9.11; 11.5) como a cristãos (11.7 cf. 9.24ff; 10.20). Isto não significa, entretanto, que toda a linguagem da eleição em Rm 9-11 é completamente vazia de individualidade (cf. Rm 9.13, 19), mas que a individualidade parece estar inseparavelmente envolvida nas ilustrações (por exemplo, Esaú, Jacó, Faraó), as quais são usadas como um meio para tirar conclusões sobre alcançar a justiça pela fé ao invés das obras (9.30ff) e a rejeição e/ou salvação de grupos ou sub-grupos corporativos tais como o Israel étnico (por exemplo, 9.1-6; 10.18-21; 11.26ff), o Israel da promessa (por exemplo, 9.6-8), o remanescente (11.1-7), os cristãos gentios (por exemplo, 9.30 cf. v. 24; 11.13-22). A linguagem individual no texto aponta retoricamente a um clímax finalmente preocupado com o Israel corporativo no capítulo 11.

Nossa perspectiva sustenta que quando a eleição com o objetivo de perseverança final está em vista, Paulo parece estar falando de comunidades antes que de indivíduos. Isto é, a predestinação e eleição dos cristãos em Rm 8.29-30 pode estar baseada no pressuposto de Paulo de que a eleição para a perseverança final refere-se à eleição de uma comunidade antes que de indivíduos como tais. Paulo enfatiza o uso do plural e termos coletivos tais como “aqueles”, “muitos”, e assim por diante, para se referir aos cristãos em 8.28-39…. Como a comunidade cristã, o próprio Israel é chamado, eleito e amado de Deus (Rm 11.28-29; cf. 11.2), todavia muitos em Israel se apostataram de forma que, na época presente, eles não participam da experiência salvadora. A eleição corporativa de Israel está claramente em vista quando Paulo afirma que todo Israel será salvo no futuro “ainda não” (Rm 11.26). Todavia, no “agora” eschaton, Rm 11 (e 1Co 10) sugere que os indivíduos e subgrupos que fazem parte da comunidade eleita (seja judeus ou gentios) podem se apostatar e ser cortados da salvação (cf. Rm 11.22).

Se Paulo está falando sobre a garantia da eleição para a perseverança final em Rm 8.28-39, então esta promessa – como Rm 11 e 1Co 10 – pareceria estar firmada para uma comunidade antes que para indivíduos per se. Primeiro, como em 1Co 10, a tradição deuterocanônica está claramente evidente em segundo plano no argumento de Paulo em Romanos, especialmente nos capítulos 9-11. Nesta tradição, Paulo parece adotar uma visão corporativa da eleição (cf. Dt 7.6ff) ao mesmo tempo em que afirma que a apostasia pode acontecer aos indivíduos e sub-grupos (cf. Dt 13.1ff; 29.18-20).

Segundo, os cristãos em Roma que são chamados de acordo com o propósito de Deus são identificados como “aqueles que amam a Deus” (Rm 8.28). Paulo parece adaptar esta frase a partir da tradição deuterocanônica onde Israel é identificado como uma comunidade daqueles que amam a Deus e preservam seus mandamentos (Dt 5.10; 7.9;…). Paulo provavelmente não pretende sugerir que “aqueles que amam a Deus” sejam entendidos como uma mera designação… para os cristãos – a frase adquire a implicação adicional de que há uma responsabilidade entre o povo de Deus para demonstrar seu amor por Deus através da obediência. Deus trabalha para o bem com aqueles que são obedientes a Deus.

Terceiro, em Romanos é evidente que se um crente vive segundo a carne ou não continua em Cristo, ele ou ela pode se tornar eternamente separado de Deus (Rm 8.12-13 cf. 11.22; 14.13, 15, 23). Mas em 8.28-39 Paulo não considera se o pecado pessoal ou a incredulidade poderia finalmente interromper a relação salvadora de um cristão com Deus.[1] Por conseguinte, a promessa de uma perseverança final nesta passagem não necessariamente se aplica aos cristãos que seguem sua natureza pecaminosa. Em outras palavras, Paulo em 8.28-39 pode de fato afirmar que a comunidade coletiva de Deus é preconhecida, predestinada e eleita no eterno conselho de Deus e irá perseverar para a glorificação final.[2] Isto seria um grande conforto aos leitores de Paulo quando ele menciona as várias provas que os cristãos em Roma podem enfrentar. Os leitores, como indivíduos, poderiam tirar conforto nas promessas desta passagem, mas somente conforme são identificados como membros da comunidade cristã. A passagem concentra-se na comunidade cristã como eleita, não o indivíduo cristão. Uma pessoa que não é parte desta comunidade não tem nenhuma reivindicação às suas promessas.

Dessa forma, o uso de Paulo dos termos relacionados à predestinação e eleição em Rm 8.28-39 não dão nenhuma indicação necessária de que indivíduos genuinamente eleitos não podem finalmente apostatar-se. Parece que Paulo crê que Deus pode escolher, preconhecer e predestinar um povo eleito para a perseverança final ainda que membros individuais podem apostatar-se (cf. Rm 11). Alguns eleitos podem apostatar-se, talvez até mesmo muitos, mas nunca todos.

O pensamento de Paulo aqui é consistente com muitas tradições israelitas antigas que retratam a realidade de apostasias individuais e de sub-grupos dentro da comunidade eleita ao mesmo tempo em que mantêm a continuidade dessa comunidade como um todo. Em todo episódio da história da tradição de Israel, um remanescente fiel sobrevive após a ocorrência de apostasia e julgamento/expulsão (por exemplo, Dt 4.23-31). Paulo habitualmente cita ou ecoa as tradições judaicas como apoio confiável de seus argumentos, e para ele, há uma analogia entre Israel e os cristãos em relação à eleição (Rm 11; 1Co 10). Parece implausível que ele teria se distanciado tão completamente das pressuposições de sua herança judaica de forma que ele agora ensina que indivíduos que compõem o grupo eleito são cada um incondicionalmente preservados de forma a nunca ser capaz de apostatarem-se completamente.

Tradução: Paulo Cesar Antunes
http://www.arminianismo.com

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